Internet, o oásis dos tímidos

Antigamente, o principal refúgio dos tímidos era a leitura e a escrita. Há muitos exemplos de comportamentos misantrópicos e excêntricos dentre os grandes nomes da história mundial, entre eles Beethoven e Arthur Schopenhauer. Essas personagens eram dotadas de um intelecto privilegiado, mas incapazes de manterem uma interação social satisfatória. Isolavam-se da sociedade para relacionar-se mais profundamente consigo mesmos, ou com possíveis admiradores, através da sua arte. O mundo ganhou muito com a sua introspecção mas, praticamente todos eles, no final de suas vidas, mostraram-se ressentidos com a vida solitária que levaram.

Na verdade, sofriam de déficit de habilidades sociais, ou seja, uma inabilidade em relacionar-se socialmente devido à excessiva ansiedade em relação ao próprio desempenho, que redunda em falta de assertividade, dificuldade de iniciar e manter conversações, de expor sua opinião e defender seus interesses verbalmente de modo satisfatório.

É um quadro gerado, principalmente, por uma educação muito rígida e punitiva que, geralmente, produz isolamento, forte sentimento de solidão e estado depressivo.

Há algumas décadas, além da arte, uma nova possibilidade tornou-se acessível para pessoas com essas características: a TV. Mais democrática e sem exigir nenhum talento especial para ser degustada, chegou a ser rotulada de imbecilizante, por provocar comportamentos passivos, que não requerem um mínimo esforço por parte do telespectador. Logo em seguida veio o videogame, uma forma de brincar que, como a TV, dispensava a companhia de outra pessoa.

E então surgiu, no final do século passado, a maravilha das maravilhas: a internet. Uma ferramenta que conjuga todas as alternativas anteriores e muito, muito mais. Com ela, até o mais anti-social dos indivíduos, além de ler, escrever, assistir e jogar, sozinho ou com amigos virtuais do mundo todo, pode também bater papo, estudar, trabalhar, comprar, vender, obter informações para resolver seus problemas do dia-a-dia, namorar e até fazer sexo virtual, sem se expor pessoalmente, quero dizer, sem se relacionar de verdade com ninguém!

Isso é bom ou ruim? Por um lado é bom e pode até estimular um relacionamento pessoal. Para aqueles que têm dificuldade de iniciar uma abordagem cara-a-cara, começar a conhecer algumas pessoas mais devagarzinho através da net pode ser um bom início para, só depois, quando se sentirem mais seguros, partir para um contato real.

O problema é que muitas pessoas, agora que dispõem desse recurso tão vasto para preencher quase todas as necessidades de suas vidas, tendem a se isolar ainda mais do contato social ao vivo. Isso porque, quando não havia a internet, algumas atividades tinham que ser feitas pessoalmente, como ir ao supermercado, por exemplo. Despensa e geladeira vazias eram uma forma de pressão suficientemente forte para obrigar a pessoa a sair do isolamento e, pelo menos, ir às compras. Com a internet bastam poucos cliques e o supermercado está em sua porta.

O déficit de habilidades sociais tem tratamento e, na maioria dos casos, pode ser revertido em um espaço de tempo relativamente curto. A partir de um diagnóstico das necessidades do cliente, num primeiro momento ele é orientado para comportar-se socialmente de modo adequado, aprendendo a lidar com a angústia, a sensação de insegurança e a ansiedade que sempre acompanham essas situações. O objetivo desta fase da terapia é torná-lo uma pessoa sociável e capaz de ir em busca de seus sonhos/metas, obtendo autoconfiança e adquirindo uma auto-estima elevada. O passo seguinte e que pode ocorrer simultaneamente é levá-lo a conhecer-se melhor e tornar-se autônomo, capacitando-o para valer-se de sua própria criatividade e recursos internos para viver de modo mais pleno.

Sem um tratamento adequado, essas pessoas perdem a oportunidade de descobrir que suas dificuldades são as mesmas de todo ser humano porque todos nós, no fundo, temos medo do sofrimento em nossos relacionamentos. E a possibilidade de compartilhar talentos e defeitos é que faz com que nos sintamos aceitos, acolhidos e amados, sendo do jeito que somos.

Habilidade para se relacionar é construída sobre o alicerce da autoconfiança. Uma amizade profunda é construída a partir da capacidade de confiar no próprio julgamento e de se expor ao outro. São qualidades que todos nós somos capazes de desenvolver, aprendendo a discernir e escolher em quem queremos apostar para abrir nossos corações.


Fonte: Minha Vida

Comentários

  1. Realmente a internet está acabando com a vida social no geral. O twitter virou o local onde todos sabem sobre você, o msn o batepapo para os jovens, o orkut encontro com amigos, o facebook brincadeiras e besteiras e por ai vai. É como se cada um vivesse apenas nesse mundo surreal. Não deixa de ser verdade, eu por exemplo passo boa parte do meu tempo na internet e graças, não a timides, mas sim as experiencias de relacionamentos anteriores.
    Prefiro passar meu tempo na internet do que me envolver com pessoas que não daram o devido respeito e atenção,tenho amigos virtuais engraçadissimos que me ajudam em momentos de tristeza.

    Eu vejo o lado bom disso, a pessoa se ve melhor, conhece suas qualidades e defeitos. Quando não conhece ou não entende vai atrás, quer saber os "porquês".
    Apesar que sei o quanto isso é ruim e pode gerar o que a Dani falou no post anterior a famosa "depressão", de qualquer forma vale a pena procurar seus amigos reais para desabafar "abrir o coração" como você disse.
    Beijos, ótimo post!

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  2. Eu amo qualquer forma de expressão e comunicação.
    A gente antes de ser falar, se comunica.
    Amo a internet e o que ela pode proporcionar.
    Tiro proveito da comunicação para aprender.
    Pena que poucos o fazem...e apenas pensam em passar o tempo.

    Bjs

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  3. De uns meses para cá eu tenho saído cada vez menos de casa e passado mais tempo na frente do computador. O problema é que eu mudei de cidade há um ano e além de não tem companhia para sair, eu também estou desempregada e não ando com muita grana. O pessoal aqui de Aracaju é muito fechado, não é muito de fazer amizade. Eu e um amigo meu que é da cidade onde eu morava e está morando aqui conversamos sobre isso uma vez. Depois que eu mudei de cidade, grande parte das pessoas que se diziam minhas “amigas” se afastaram de mim, ou seja, não me procuram mais. No início eu procurava, mas percebi certa falta de interesse da parte delas em conversar comigo, não sei se é só impressão minha.

    Beijos...

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  4. Concordo com a Srtª Atitute, é um bom lugar para se aprender coisas novas.

    E Vera:
    "mas percebi certa falta de interesse da parte delas em conversar comigo, não sei se é só impressão minha. "
    É normal isso, não é só com você. Todo mundo acaba se fechando depois de um tempo.
    Acho que essa é a parte mais engraçada, a pessoa sempre foi sua amiga, depois passa a te ignorar.Também tanto faz, você conhecerá outras pessoas pela net e pessoalmente, e tudo se resolverá a pessoa volta para o esquecimento e um dia te procura sentindo falta

    Ouvi essa frase de algumas crianças na rua "A fila anda, a catraca gira.Sentiu saudade vai para o final da fila!"
    Dei risada, e acho que essa é a única solução para não ficar frustrado com o despresso de alguns "amigos"

    bjs

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  5. Gostei do tema do post! Essa falta de habilidade social trouxe muitas pessoas para a internet, ainda mais as pessoas que se sentem mais a vontade escrevendo do que falando, e ver isso como algo que pode ser resolvido é muito importante porque muitas pessoas sofrem desse problema mas ignoram...

    E Vera, aconteceu isso comigo também, mas depois de certa forma não achei tão ruim porque você fica se perguntando se era amizade ou apenas conveniência... E como a Pri falou há pessoas que depois vieram tentando resgatar a amizade, mas nunca é a mesma coisa e se não há confiança é difícil retomar, de fato, a amizade...

    Beijos

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